Teve um tempo que o Blumerangue foi muito mais agitado e povoado de textos do que é hoje em dia.
Foi meio assim que descobri o quanto eu me encontrava realmente ao escrever. Eu tinha alguns indícios antes do blog, desde mais molecão. Até hoje segue assim: meu primeiro instinto quando alguma coisa pipoca na minha cabeça é escrever.
O azul que eu vejo provavelmente é diferente do azul que você observa. E não é só uma questão física, é uma questão de percepção. Esse mesmo azul pode causar uma sensação ou lembrança em mim, e outra em você.
Muitas vezes deixamos de ser autênticos para nos encaixarmos em alguma ideia coletiva, alguma proposta social do que é “mais bonito”, do que é “certo”, do que o “sucesso” deve parecer, e é uma proposta criada por alguém – alguém que não somos nem eu, nem você.
Nesse novo episódio do podcast temos a participação dele, que tem uma carreira totalmente não-linear, um engenheiro criativo que hoje desenvolve times e profissionais: Igor Monteiro (@igormmonteiro_)!
“Descubra seus talentos”. Já parou pra pensar nesse tipo de frase?
Eu tenho uma certa mania, talvez seja mania de escritor, de olhar literalmente para uma palavra – e eu digo “literalmente” na plenitude de seu significado.
Logo, “descobrir” é sobre “remover o que cobre”.
Então, de repente “descobrir a verdade” significa que a verdade está lá, ela só está coberta por algo – ou alguém (soa uma música dramática).
No final desse ano de 2023, as férias, finalmente, vieram.
Eu aproveitei alguns dias tranquilos para apenas ler, me exercitar, cozinhar e descansar, tanto em casa quanto numa curta viagem às montanhas frias da linda Monte Verde, em Minas Gerais – “Minas, meu país!”, gritam leitoras e leitores mineiros neste momento.
Bem como a vida, o jazz é uma coisa complexa e maravilhosa. Talvez a maravilha toda esteja na sua complexidade, afinal.
Descobri meu gosto… não, gosto não, não é só gosto, meu apreço, isso…Descobri meu apreço pelo jazz por volta dos 20 anos. É eu sei, um sabor musical diferente pra alguém dessa idade.
Porém, agradecimentos precisam ser documentados aqui aos meus queridos amigos que foram e seguem sendo maravilhosas influencias aos meus ouvidos musicalmente.
Uma das primeiras vozes femininas que eu ouvi quando comecei a ouvir jazz foi a de Ella Fitzgerald, a “Primeira Dama da Música”.
Sejam suas músicas ao lado de Dizzy Gillespie, numa Big Band (as famosas bandas de jazz) ou as músicas que mais funcionam como uma máquina de viagem no tempo, cantando em dupla com Louis Armstrong – especialmente em tempos de Natal e virada de ano, as músicas natalinas dessa dupla ecoam aqui em casa com tanta doçura quanto a época pede.
A voz de Ella é inconfundível, mas quase foi também irreconhecível.
Ella Fitzgerald teve um histórico de vida complexo. Tão ou mais complexo que o jazz, mas definitivamente tão complexo quanto a vida. Ficou órfã muito jovem, deixou cedo a escola para trabalhar, viveu nas ruas de Nova York e chegou a trabalhar até como vigia de bordel.
Numa noite, no icônico Apollo Theater, Ella estava esperando sua oportunidade para se apresentar na “Noite Amadora” – com um porém importante: Ella ia apresentar um número de dança. Sim, dança.
Sua paixão pela música foi herdada da mãe, que faleceu quando Ella tinha apenas 14 anos. Seu sonho na música era então o de ser dançarina e por isso foi ao Apollo Theater na esperança de se apresentar.
Naquela noite soube que outras duas irmãs se apresentariam com um número de dança e então, quando foi chamada do meio da platéia para sua oportunidade ela repentinamente mudou de ideia e foi para o microfone.
Ella cantou “Judy”, uma das músicas favoritas de sua mãe e, pra nossa sorte, encantou muita gente naquela noite. Daí em diante se apresentou em pequenos palcos, conheceu grandes músicos e contou até com o apoio de Marilyn Monroe que avisava: se Ella Fitzgerald fosse cantar, Marilyn iria e se sentaria na primeira fileira da apresentação – os teatros, obviamente, amavam a exposição, e assim Ella passava de pequenas casas de shows para grandes concertos.
É interessante como uma oportunidade transforma um sonho que parece algo bom em algo ainda mais fantástico, não é mesmo?
E, às vezes, se tivermos a atitude certa, com fé, a paixão encontra o talento, a ação encontra a oportunidade e a gente tem a chance de se maravilhar com algo tão doce como a voz de Ella Fitzgerald.
English Version
Ella Fitzgerald and the opportunities that change dreams
As well as in life, jazz is a complex and wonderful thing. Perhaps the whole magic lies in its complexity after all.
I discovered that I like… no, wait I don’t just like it, I appreciate it… yes… I discovered my appreciation for jazz around my 20s. Yeah I know, a different musical flavor for someone that age.
However, my gratitude must be documented here to my dear friends who were and continue to be wonderful influences to my ears musically.
One of the first female voices I heard when I started listening to jazz was Ella Fitzgerald’s voice, the “First Lady of Song.”
I’ve heard her songs alongside Dizzy Gillespie, in a Big Band or the songs that were more like a time travel machine, singing alongside the great Louis Armstrong – especially at the Holidays times, the duo’s Christmas songs echoes here at home with as much sweetness as the season asks for.
Ella’s voice is unmistakable, but it was almost unrecognizable as well.
Ella had a complex life story, maybe as complex as a jazz song, but definitely as complex as life. She was orphaned at a very young age, left school early to work, lived on the streets of New York City and even worked as a brothel watchman.
One night, at the iconic Apollo Theater, Ella was waiting for her opportunity to perform at “Amateur Night” – with an important detail: Ella was going to perform a dance number.
Her passion for music was inherited from her mother, who died when Ella was just 14 years old. Ella dreamed of becoming a dancer and so waited for the opportunity to perform at the Apollo Theater.
That night, Ella learned that two sisters were going to perform a dance number, and when she was called from the middle of the audience for her opportunity, she suddenly changed her mind and went straight to the microphone.
Ella sang “Judy”, one of her mother’s favorite songs and, luckily for us, her presentation amazed a lot of people that night. From that point she performed on small stages, met and worked with great musicians and even had the support of Marilyn Monroe who warned: if Ella Fitzgerald were about to sing, she would be there in the theaters to sit in the front row – big theaters obviously loved the audience coming from Marilyn, and so Ella went from small concert halls to big concerts stages.
It’s interesting how an opportunity turns a dream that seems good into something even more fantastic, isn’t it?
And sometimes, if we have the right attitude, with faith, passion meets talent, action meets opportunity, and we get a chance to marvel at something as sweet as Ella Fitzgerald’s voice.
O quanto nos encontramos presos e fechados a nossas convicções, crenças e certezas é o quanto estamos abertos, ou fechados, ao novo.
Nessa semana o Momentum Dash, uma aplicação para Google Chrome que traz fotos incríveis acompanhadas de frases, temperatura e tarefas do dia ao abrir seu navegador, me lembrou de um história muito boa.
Ao abrir uma aba nova no meu navegador, veio lá a imagem do espaço e a frase: “Esvazie a sua xícara, Caio”.
Essa é uma história oriental que se conecta ao zen budismo e traz ensinamentos muito ricos sobre estarmos ou não abertos ao novo.
A nossa sede por aprender, por ouvir, por estarmos abertos ao conhecer, curiosos para estudar, essa vontade e abertura são ingredientes fundamentais para onde quer que queiramos chegar, principalmente, se quisermos ter um princípio de alegria, de felicidade, nesse processo.
No Two Minute Tuesday de hoje, eu conto um pouquinho mais dessa história:
Sem dúvidas, top 3 das melhores lives que assisti até o momento nesse período de festival de lives em que vivemos.
Sábado, o dia que precede o dia do descanso e da contemplação.
Sábado que também é dia de colocar a vida em ordem, em algumas de suas áreas. Pra nós, aqui em casa, dia de fazer faxina, de bagunçar a casa para poder limpar tudo direitinho e, depois da bagunça, ter tudo arrumado e aconchegante novamente.
Aproveitei o momento para colocar os companheiros inseparáveis de trabalho, os fones de ouvido, e ouvir, então, uma live da Casa do Saber que vi que rolou, não pude assistir ao vivo, porém, na beleza do YouTube, pude acompanhar num momento propício.
Levando em conta que já estava com os podcasts em dia, considerei o tempo de 2 horas de aula do Professor Clóvis de Barros, de quem acompanho o trabalho há tempos (da entrevista no Jô aos seus deliciosos e leves livros), para me acompanhar na lida da casa.
A filosofia da vida boa de ser vivida
Foi, se não a melhor, uma das melhores lives que pude acompanhar nesse tempo de reclusão em nossas casas.
Uma aula, empolgada, sincera, viva, cheia de filosofia e pensamentos voltados ao amor pela vida. Amor pelo momento atual. Por viver e construir o que há agora. E mais, amor pelo estudar, saber, conhecer, aprender. Mais que tudo, aprender. Sempre.
Se você também quer aprender, eu recomendo fortemente assistir ou ouvir a essa aula. E, se você não consegue parar as 2 horas direto, ouça e veja de pouco em pouco, em doses homeopáticas. Mas veja – se a vida boa de ser vivida e o aprendizado são temas de seu interesse, lógico.
Três grandes pontos finais
Eu poderia trazer aqui alguns resumos dessa aula, mas eu não creio que me atreveria a tanto.
Passado e futuro acontecem no agora, vivemos ambos no momento presente, portanto, não há outro momento se não esse.
Não há sentido em classificar o momento de vida que vivemos agora como uma “sala de espera” de um outro momento. A vida boa de ser vivida é essa, é o agora, é onde se pode fazer algo, construir algo, viver de fato o que há para ser vivido.
Esvaziar-se de pretenções para abrir espaço para aprender sempre e aprender ou fazer o que se gosta, não porque a sociedade ou alguém diz que é melhor, mas porque, independente da “produtividade” daquele aprendizado, ele, o aprendizado, te fez feliz.
Ontem quando fui dormir eu esperava acordar hoje, entrar no Twitter, no Instagram e ver que foi um engano, estranho e maluco engano…
Sábado assistindo LeBron passar seu recorde como cestinha eu o celebrava…
Eu cresci assistindo Kobe jogar. Quando tinha meus 12 ou 13 anos, vez em quando conseguia ver um ou outro jogo na TV e quem passava eram os Lakers.
Fui crescendo, mais velho e adolescente já conseguia ver mais jogos e me encantar com Kobe e companhia. Até mesmo na época da Faculdade quando chegava de madrugada e ia ver NBA comendo um pacote de Passatempo e fazendo trabalho da faculdade pois tinha que trabalhar noutro dia cedo, na TV do quarto tava rolando quem…
Mas eu me tornei fã do Kobe não só pelo jogador talentoso, dedicado e apaixonado pelo jogo de basquete que ele foi, mas pelo Ser que era Kobe Bryant.
Por suas entrevistas, pelas histórias que adversários e companheiros – que no fim eram amigos – contavam. Sua forma de tratar os fãs. Pela Mamba Academy. Por treinar e incentivar as meninas a dominarem e brilharem no esporte que tanto amou, incluindo Gigi, sua filha que o acompanhava a vários jogos e agora o acompanha também nessa nova fase da Jornada.
A saudade de um cara que era muito mais que um atleta vai ficar. Eu imaginava Kobe sendo ainda mais exemplo pra esse mundo.