Era uma vez um mineirinho. Um menino maluquinho. Ele escrevia histórias. Ele desenhava enredos. Ele criava peças e ele pregava peças. Ele ensinava arte, ensinava vida, traços e estripulias.
Seu nome era Ziraldo.
Eu me lembro bem da companhia do menino de paletó azul de adulto e panela da cozinha da vó na cabeça. “Menino Maluquinho” foi, talvez, o meu maior e mais extenso contato com a obra do Ziraldo. Dos quadrinhos que eu li na escolha ao filme, que fui ao cinema assistir, e vi também tanto na escola quanto em casa. Pobre da minha vó, que me achou algumas boas vezes de panela na cabeça.
Maluquinho, como se sugere, é moleque como tantos moleques, que contava também com uma moleca como muitas molecas, a Julieta. Experimentos, curiosidade e um banho de criatividade… Ziraldo retratou no Menino Maluquinho um ensinamento eterno: o ensinamento do que é ser criança.
Ser criança é ser criativo por natureza. Sem interesses, sem ideais, a não descobrir e se divertir enquanto isso.
Eu desconfio que o Ziraldo estava só colocando no papel a criança que ali nele morava. Não que ele não fosse ainda criativo. É que parece que o adulto precisa, vez em sempre, abrir a janelinha para a criança aparecer. O Menino Maluquinho talvez fosse do Ziraldo um janelão.
Neste final de semana o Ziraldo ficou encantado – como dizia Rubem Alvez. Foi fazer estripulia lá de cima.
Querido Ziraldo, que você continue inspirando nossa criatividade e nossa inocência aí de riba, continue enviando pra cá, com traços que ora foram de grafite, agora de luz, a mesma energia boa das suas histórias. Por que se tem uma coisa que a gente anda precisando hoje em dia, Ziraldo, é ser mais menino, é ser mais menina, é ser mais Julieta, é ser mais Maluquinho.