25 de Dezembro, 9 horas da manhã do dia de Natal. Voltávamos da capital para o interior quando o carro começa a reclamar.

Os barulhos vinham de algum canto. Procuro um lugar seguro, encosto o carro e checo os pneus, tudo ok. Vamos seguir viagem então…2 metros à frente… tumtumtum.

Encontro um posto de gasolina, desejo Feliz Natal e encosto o carro. É algo do motor. Ainda bem que alguém inventou o seguro automotivo. Chamo o guincho.

Enquanto muita gente pode estar pensando “puts, que beleza de manhã de Natal, não?”, eu nem tive tempo de pensar. O guincho chega rápido e, mal sabíamos nós, chagava também um presente de Natal inesperado.

Paulo, o motorista do guincho, vem até nós, tranquilo e calmo. Analisa o que aconteceu, dá seu parecer e nos convida para a viagem de volta pra casa, passeando de guincho no dia do Natal.

O Paulo tinha chego do trabalho no dia 24 às 11h da noite direto para a festa de Natal da família e acordou dia 25 às 5h da manhã para trabalhar. Quem sou eu, que estava passeando e tinha seguro do carro para reclamar…

O Paulo, muito amável, foi o caminho todo, da capital ao interior, nos contando algumas histórias. Você pode imaginar as histórias de alguém que trabalha mais de 10h por dia disponível exatamente para ajudar em emergências?

Ele vai de motorista do guincho a psicólogo em poucos minutos.

O Paulo é um cara especial. Lidando com gente boa, com gente educada, com gente bem da mal educada, ele sempre encontrou nas suas histórias o equilíbrio dentro de si mesmo, e foi capaz de ajudar a quem foi socorrer muito além do transportar de um veículo enguiçado.

Uma das histórias é de uma senhora que, com boas condições financeiras, ficou com o carro parado dentro de um shopping. Nervosa, chorando, contou dos problemas de saúde dos familiares, da vizinhança desagradável do condomínio, etc, e perguntou ao Paulo o que ele achava da situação toda. Sua resposta? Era muita coisa boa para reclamar de tão pouco.

Os problemas de saúde da família despertaram o cuidado intenso com a saúde dela mesma. O casamento tinha ótimas condições de melhorar. Financeiramente, não lhe faltava nada. Os vizinhos? Cada um que cuide do seu, se tiver muito barulho coloque uma música bem dançante em casa e seja feliz!

Um cara que pega dois ônibus para ir ganhar o sustento de um filhinho de dois anos e trabalha 10 horas por dia conseguia ver de um ângulo muito mais rico, do que quem tinha “muito”.

A sabedoria não tem preço.

Posso dizer com toda certeza que o carro quebrar na manhã do Natal, longe da minha cidade, foi um baita presente de Natal. Conhecer um Paulo é conhecer um pouco da luz e do bem que habita nesse mundo.

Muitas das vezes, essas pessoas que são verdadeiros presentes, vivem suas vidas, quietinhas. A reclamação, a indignação e a negatividade, por outro lado, são mega barulhentas. Na internet então…

Mas o Paulo me lembrou que, apesar dessa meia dúzia de gente chata, tem muito, muito mais pessoas que são verdadeiros presentes vivendo o dia-a-dia por aí. Das manhãs de Natal a uma quarta-feira comum.

Espero que você encontre presentes andando por aí também. Feliz Natal.