Abre-se a porta da salinha e lá estão: uma maca, um balcão de medicamentos, uma cadeira e um médico sentado, de pernas pro ar, assistindo a uma série de TV médica no seu dispositivo portátil.
Ele carrega uma bengala, uma barba mal-feita, uma certa obscuridade e um olhar irônico, julgador, o olhar de quem lê cada detalhe a respeito de quem acaba de chegar: roupas, postura, expressões, detalhes das mãos, pés, cabelo, unhas… pelos nasais? É você, Sherlock Holmes?
Ele também é um excelente músico, assim como Sherlock, só que na vida real. Ah, e ele não é médico. Nem detetive.
Estou falando da série House, que assistia com a minha esposa dia desses. House é uma daquelas séries de conforto para mim. Me lembro claramente dos tempos de faculdade durante a noite e trabalho durante o dia. Chegar exausto ao meu quarto, finalmente tomar um banho e deitar na cama, ligar a TV e em poucos minutos começava a música de abertura. Um suspiro vem. Reconfortante.
Em poucos instantes eu veria um médico obsessivo e teimoso investigar tudo que pode até resolver os enigmas de uma doença que, ainda bem, não era sempre lúpus — se você é da audiência de House vai pegar essa referência.
House coincidiu também num momento em que eu começava a me interessar e me aprofundar mais no gosto por blues e jazz, que era um movimento um tanto solitário para um jovem no começo dos seus 20 anos, no Brasil.
Em pouco tempo descobri que Hugh Laurie, o ator britânico que interpreta genialmente o Dr. Gregory House, é também um exímio músico. Mais do que isso, Hugh é autodidata e aprendeu sozinho a tocar piano, cantar, compor e mais.
Ele teve poucos trabalhos publicados musicalmente, mas os que teve… uau.
“Let Them Talk”, seu primeiro álbum, tem de tudo: blues agitados e dançantes e pianos profundos. O mais legal é que dá para notar a paixão pelo gênero na voz de Hugh.
Seu segundo álbum, “Didn’t It Rain” traz boas histórias e excelentes participações especiais. Realmente especial.
Dizem que você precisa escolher o que quer ser na vida. Atores e atrizes têm a oportunidade de serem muitas coisas durante suas vidas. Médicos, músicos, heroínas, monstros. Alguns, inclusive, aproveitam para abraçar mais de uma paixão na vida real. Hugh o fez.
Dizem muita coisa por aí, a maioria, se você reparar bem, não te motivam, só te colocam numa caixinha. Artistas e pessoas criativas desafiam gente comum. Explodem as caixinhas. Ensinam a gente que a vida é sobre ser mais. É sobre ser mais a gente mesmo.