Dizem que os olhos são a janela da alma.
Se assim for, quando se tratam dos artistas, suas obras é que se tornam a janela da alma.
Esses dias eu estava lendo um texto de James Clear quando me deparei com esse trecho que ele tirou de EB White em Letters to the Children of Troy:
“Os livros guardam a maior parte dos segredos do mundo, a maioria dos pensamentos que homens e mulheres tiveram. E quando você está lendo um livro, você e o autor ficam sozinhos – só vocês dois. (…). Os livros são uma boa companhia, tanto nos momentos tristes como nos momentos felizes, pois os livros são pessoas – pessoas que conseguiram permanecer vivas escondendo-se entre as capas de um livro.”
Toda vez que lemos um texto, somos convidados a visitar a mente e, quando profundo suficiente, a alma de quem escreve. Toda vez que vemos uma pintura, um design, um filme, ou ouvimos uma música… também. Personalidade, pensamentos, referências, crenças, medos, alegrias… estão todas ali, espalhadas em detalhes e cantos de cada conto, de vírgulas lá e cá. E que lindo é isso!
Essa é, talvez, uma das maiores mágicas da criatividade e das artes. Mas tem um porém: a mágica só funciona quando a obra é verdadeira. Se for criada com quaisquer outra intenção (financeira, likes, seguidores), corre o risco de ficar com aquele gosto de artificial, sabe? Um bolo com gosto de corrimão.
É por essas e outras que eu não dou trela para esse papo de Inteligência Artificial tomando o lugar da arte. A arte é alma. Uma máquina pode pintar um quadro. Uma IA também pode. Ela só não pode sentir o que está criando (ainda?!).
Vou deixar uma coisa clara: tenho nadinha contra as IA’s da vida não, viu? Mesmo porque, já usei e sigo usando muitas delas – são ótimas ferramentas para exercitar a criatividade.
Um texto, uma arte, um design, um vídeo… todos podem ter tido algo “automatizado” por trás. Hoje, no mundo digital, é praticamente impossível que não se tenha – esse texto mesmo teve um corretor automático me ajudando a revisar a escrita.
Mas o que eu sinto quando escrevo e o que você sente quando lê, só nós saberemos. Os detalhes de uma espiada na janelinha da minha mente estão aqui, espalhados e escondidos por entre letras, espaços e pontuações.
Então não. A arte não corre risco não. Enquanto ainda sensíveis criarmos com a alma e tivermos vocês aí lendo com a alma, seguiremos juntos, nessa experiência única de espiar a alma uns dos outros.