Mais uma vez, o skate me fez chorar.

Apesar de ter andado de skate por muitos anos, desde a adolescência tomando madeirada nas canelas, joelhos e tornozelos, ensaiando kickflips no quintal da nossa pequena casa na periferia da cidade, o skate nunca me fez chorar por dor.

Hoje, mais velho e sem tanta audácia para os kickflips, eu me contento em andar de longboard, que vira apenas um passeio em que se aprecia o vento no rosto.

E me contento também, e como me contento, em ver o skate crescer como esporte. Crescer tanto a ponto de ganhar seu espaço Olímpico.

O skate vai muito além de uma molecada que gosta de quebrar regra, usar roupa larga e ouvir música. O skate é uma escola do amor.

Em nenhuma outra competição esportiva você vai encontrar o mesmo nível e profundidade de amizade, admiração, torcida mútua e energia positiva, ou AMOR, como você vai encontrar numa competição de skate.

Augusto Akio, nosso Japinha malabarista, trouxe o bronze olímpico pra casa. Jogou com seus malabares, brincou no pódio, fez careta… mas a mensagem das falas do Akio foi uma só: AMOR.

“Sozinho é frio. Junto, é quente”, disse o Japinha. E ele ainda carteirou: “não tô falando de temperatura, tô falando de sentimento”.

Pedro Barros e Luigi Cini, que também estavam na final, falaram exatamente da mesma coisa. Amizade. Amor. Respeito. A vida não precisa esperar uma Olimpíada para unir nações, torcidas e pessoas ao redor de um clima de paz e camaradagem. Todos os dias têm essa oportunidade. Deram o exemplo em palavras e em ato: um abraço triplo ao final das baterias. É sobre a amizade. Sobre o AMOR.

E essa é a mensagem do skate. Sempre foi.

“O mundo” prefere taxar os moleques e as minas como desinteressados, preguiçosos e, vamos falar a real? “Vagabundos”. É mais fácil. Quem “quebra a regra”, quem fala do amor, ou é brega, ou é vagabundo. Chorão que o diga.

A realidade é que elas e eles trabalham duro, dedicam uma vida e até a integridade física e mental para representarem seus países, levarem a mensagem e a alegria do skate mundo afora. Dedicam seu tempo, o bem mais precioso do Universo. Tempo que poderiam estar com familiares, amigos, amores. Esse tempo está investido em pistas, viagens, quedas, erros, ralados, sessões de fisioterapia…

Tudo em nome de quê? Medalhas? Patrocínios? Troféus? Premiações?

Não. Amor.

Mais uma vez o skate me fez chorar. Mais uma vez, foi por amor.

Só quem ama pode ter a disciplina de um atleta, a paixão de um atleta, a tenacidade de um atleta. Só quem ama pode quebrar as regras, como os skatistas fazem. Por amor.