A gente se esforça para não ser nem humano nem natural.

E não é de pouco esforço que eu estou falando. Estou falando de muito esforço. Hércules se admiraria.

Já reparou que boa parte dos “sapatos elegantes” não tem nada a ver com a forma dos pés humanos? — Gosto do uso das aspas aqui, pois, afinal, alguém que não sei quem teve que determinar o que é sinônimo de elegância ou não.

“Sapatos elegantes” são finos, são estreitos, formam bicos finos, enquanto pés se alargam. Alguns modelos de sapato levantam os calcanhares a um ponto que os pés estão quase andando pela ponta dos dedos.

Tintas. Implantes. Capas. Clareadores.

Muito do que é sintético está sendo elevado ao status de “chique”.

Não me entenda errado, existem ferramentas para a autoestima, para o bem-estar, e são ferramentas do bem. A minha questão é com a vida de cristal plastificada.

Não tocamos o solo mais. Não sentimos a grama, a terra, a água, o calor, o frio, o orvalho. Não nos identificamos com o ambiente do qual viemos e de quem somos parte. No máximo sentimos o calor do asfalto, quente, refletido na sola de borracha. Só tocamos o solo protegidos.

De preferência, uma proteção fina, estreita, alta e sintética. Apertada.

Nos apertamos por aí, com aperto no tempo, nas finanças, nas emoções e nos sentidos. Nos apertamos para não ser quem somos.

Eu torço para que chegue o dia em que o nível máximo de elegância e sofisticação seja ser natural. E olha que curioso… ser natural depende de autenticidade, e a autenticidade não depende de ninguém, além de mim, e no seu caso, de você.

Essa sim é a cara da riqueza.