Bem como a vida, o jazz é uma coisa complexa e maravilhosa. Talvez a maravilha toda esteja na sua complexidade, afinal.

Descobri meu gosto… não, gosto não, não é só gosto, meu apreço, isso…Descobri meu apreço pelo jazz por volta dos 20 anos. É eu sei, um sabor musical diferente pra alguém dessa idade.

Porém, agradecimentos precisam ser documentados aqui aos meus queridos amigos que foram e seguem sendo maravilhosas influencias aos meus ouvidos musicalmente.

Uma das primeiras vozes femininas que eu ouvi quando comecei a ouvir jazz foi a de Ella Fitzgerald, a “Primeira Dama da Música”.

Ella Fitzgerald by Caio Blumer - Blumenrangue
Digital Art by Caio Blumer

Sejam suas músicas ao lado de Dizzy Gillespie, numa Big Band (as famosas bandas de jazz) ou as músicas que mais funcionam como uma máquina de viagem no tempo, cantando em dupla com Louis Armstrong – especialmente em tempos de Natal e virada de ano, as músicas natalinas dessa dupla ecoam aqui em casa com tanta doçura quanto a época pede.

A voz de Ella é inconfundível, mas quase foi também irreconhecível.

Ella Fitzgerald teve um histórico de vida complexo. Tão ou mais complexo que o jazz, mas definitivamente tão complexo quanto a vida. Ficou órfã muito jovem, deixou cedo a escola para trabalhar, viveu nas ruas de Nova York e chegou a trabalhar até como vigia de bordel.

Numa noite, no icônico Apollo Theater, Ella estava esperando sua oportunidade para se apresentar na “Noite Amadora” – com um porém importante: Ella ia apresentar um número de dança. Sim, dança.

Sua paixão pela música foi herdada da mãe, que faleceu quando Ella tinha apenas 14 anos. Seu sonho na música era então o de ser dançarina e por isso foi ao Apollo Theater na esperança de se apresentar.

Naquela noite soube que outras duas irmãs se apresentariam com um número de dança e então, quando foi chamada do meio da platéia para sua oportunidade ela repentinamente mudou de ideia e foi para o microfone.

Ella cantou “Judy”, uma das músicas favoritas de sua mãe e, pra nossa sorte, encantou muita gente naquela noite. Daí em diante se apresentou em pequenos palcos, conheceu grandes músicos e contou até com o apoio de Marilyn Monroe que avisava: se Ella Fitzgerald fosse cantar, Marilyn iria e se sentaria na primeira fileira da apresentação – os teatros, obviamente, amavam a exposição, e assim Ella passava de pequenas casas de shows para grandes concertos.

É interessante como uma oportunidade transforma um sonho que parece algo bom em algo ainda mais fantástico, não é mesmo?

E, às vezes, se tivermos a atitude certa, com fé, a paixão encontra o talento, a ação encontra a oportunidade e a gente tem a chance de se maravilhar com algo tão doce como a voz de Ella Fitzgerald.


English Version

Ella Fitzgerald and the opportunities that change dreams

As well as in life, jazz is a complex and wonderful thing. Perhaps the whole magic lies in its complexity after all.

I discovered that I like… no, wait I don’t just like it, I appreciate it… yes… I discovered my appreciation for jazz around my 20s. Yeah I know, a different musical flavor for someone that age.

However, my gratitude must be documented here to my dear friends who were and continue to be wonderful influences to my ears musically.

One of the first female voices I heard when I started listening to jazz was Ella Fitzgerald’s voice, the “First Lady of Song.”

I’ve heard her songs alongside Dizzy Gillespie, in a Big Band or the songs that were more like a time travel machine, singing alongside the great Louis Armstrong – especially at the Holidays times, the duo’s Christmas songs echoes here at home with as much sweetness as the season asks for.

Ella’s voice is unmistakable, but it was almost unrecognizable as well.

Ella had a complex life story, maybe as complex as a jazz song, but definitely as complex as life. She was orphaned at a very young age, left school early to work, lived on the streets of New York City and even worked as a brothel watchman.

One night, at the iconic Apollo Theater, Ella was waiting for her opportunity to perform at “Amateur Night” – with an important detail: Ella was going to perform a dance number.

Her passion for music was inherited from her mother, who died when Ella was just 14 years old. Ella dreamed of becoming a dancer and so waited for the opportunity to perform at the Apollo Theater.

That night, Ella learned that two sisters were going to perform a dance number, and when she was called from the middle of the audience for her opportunity, she suddenly changed her mind and went straight to the microphone.

Ella sang “Judy”, one of her mother’s favorite songs and, luckily for us, her presentation amazed a lot of people that night. From that point she performed on small stages, met and worked with great musicians and even had the support of Marilyn Monroe who warned: if Ella Fitzgerald were about to sing, she would be there in the theaters to sit in the front row – big theaters obviously loved the audience coming from Marilyn, and so Ella went from small concert halls to big concerts stages.

It’s interesting how an opportunity turns a dream that seems good into something even more fantastic, isn’t it?

And sometimes, if we have the right attitude, with faith, passion meets talent, action meets opportunity, and we get a chance to marvel at something as sweet as Ella Fitzgerald’s voice.