Estamos sempre precisando de uma providência dos céus.

Precisamos que os frutos brotem e as flores floresçam: aí vêm os céus com o sol.

Precisamos que os rios fluam, levem água às árvores, aos animais, transportem folhas. Vêm os céus com a chuva.

Precisamos que a polinização aconteça, que as plantas se espalhem, que cresça a vegetação, os pés de frutas. Vêm os céus com as abelhas, os beija-flores, os pássaros.

Precisamos que o mar tenha seu regime correto, que as marés se orientem. Vêm os céus com a lua.

Na semana que passou, vivemos uma seca das mais áridas aqui pelo interior de São Paulo e na capital paulista.

O céu, laranja. O sol, vermelho. O ar era pesado, e não de forma literária; respirávamos um ar denso.

Da janela de casa, mal dava para ver os prédios a alguns quarteirões de distância: a densa nuvem de poeira e fuligem cobria as sacadas—as vistas das sacadas e as sacadas em si. Haja vassoura.

Com dois dias de umidade do ar chegando a 20%, não havia alternativa: precisávamos de uma providência divina.

A nossa sorte é que a divindade nunca tarda e muito menos falha.

Ela veio, veio ventando, veio gelando, veio lavando—nosso chão, nossas narinas, nossa alma. A providência dos céus veio em gotas, gotas em queda livre.

Ufa, já podemos respirar de novo; os céus nos socorreram. O que era laranja se acinzentou, a poeira molhou, a fuligem acabou. As plantas podem voltar a sorrir, e nós, abençoados como que num batismo da mãe natureza, em parceria com os céus, voltamos a respirar aliviados.